Junto com o Brasil, a Costa do Marfim tem uma característica singular: os dois países são os únicos, dentre os 193 existentes atualmente, que tem um nome tirado de uma antiga mercadoria colonial. Como o Brasil, a Costa do Marfim recebeu seu nome dos portugueses que, até o final do século 16, foram os únicos europeus presentes na região.
Independente desde 1960, quando houve o grande movimento de descolonização francesa na África Subsaariana, a Costa do Marfim sempre manteve laços estreitos com a França, por obra e graça de seu primeiro presidente, Houphouet-Boigny.
Na realidade, Houphouet-Boigny se manteve no posto, de maneira ditatorial, de 1960 até a sua morte, em 1993. Sua imbricação com os interesses políticos e econômicos franceses, que controlam a comercialização do cacau e do café, principal riqueza do país, tornou-se proverbial.
Durante anos, o país foi próspero. Mas, a partir de meados dos anos 1980, a economia estagnou, devido à secas e à queda dos preços do café e do cacau, trazendo problemas sociais, motins militares e tensões étnicas e religiosas. As populações do Norte do país são majoritariamente muçulmanas, enquanto as do Sul são em geral cristãs.
Tropas da ONU mantêm uma paz precária no país desde 2002. Presidente em exercício a partir do ano 2000, Laurent Gbagbo, cristão e com suas bases eleitorais no Sul, enfrentou Alassane Ouattara, muçulmano muito popular no Norte do país, nas presidenciais de setembro e outubro do ano passado.
Conforme a comissão eleitoral independente da Costa do Marfim, Ouattara foi o vencedor das eleições. Apesar de tudo, Gbagbo não cedeu à presidência a Outtara, que também foi reconhecido como vencedor das eleições pela ONU, a União Europeia e os Estados Unidos.
Seguiram-se os conflitos que mergulharam o país em enfrentamentos armados. Nesta semana, o Conselho de Segurança da ONU votou, por unanimidade, sanções contra Gbagbo e sua família, instando a “retirar-se imediatamente” da presidência.
Nos últimos dias, as forças legalistas que apoiam Ouattara tomaram Yamoussoukro, capital constitucional do país, e acentuam o cerco à Abidjan, capital econômica, onde se encontra Gbagbo e seu estado-maior.
O embate entre cristãos e muçulmanos dá uma dimensão internacional à crise na Costa do Marfim. O conjunto da população da África subsaariana compõe-se de 57% de cristãos e 29% de muçulmanos. Mas nos países acima da bacia do Congo, as proporções são mais próximas e as clivagens internas mais nítidas, como na Nigéria e no Sudão, onde surgiram conflitos sangrentos entre as duas comunidades.
Não sabemos quais serão as consequências desse conflito para cristãos e muçulmanos da Costa do Marfim. Dependendo do resultado pode gerar perseguição e segregação de um grupo pelo outro ou mesmo desencadear conflitos político-religiosos em outros países do norte da África e África Subsaariana onde exista essa divisão.
Oremos para que os conflitos não gerem derramamento de sangue e perseguição. Ore para que Deus traga paz e realize Sua vontade nessas áreas afetadas pela violência.
* Este país não se enquadra entre os 50 mais intolerantes ao cristianismo.
Fonte: UOL |
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