segunda-feira, 5 de março de 2012

O clamor de um pastor paquistânes

Coloque-se no lugar de um pastor paquistanês, lutando há alguns meses atrás para preparar o sermão do dia seguinte para sua congregação.
Fazendo uma pausa de sua leitura, estudando e orando sobre a Palavra de Deus, passeou nos degraus da frente de sua paróquia, a casa onde ele e sua família vivem no interior do complexo da igreja. Ele podia ouvir em alto som o caos do trânsito fora dos muros, localizado em meio a uma cidade lotada e transbordante, com sua população esmagadora de 95 porcento de muçulmanos.
O clamor de um pastor paquistânesOlhando pelo portão da frente do complexo, ele observou um homem que caminhava parar e olhar para a igreja. Por suas vestimentas, estava claro que ele vinha da tribo do norte do país, onde tropas do governo entravam em confronto diário com extremistas islâmicos aliados a elementos do Talibã do outro lado da fronteira.
Olhando para os sinos da igreja que tocavam no horário, o homem cuspiu no chão e começou a amaldiçoar: "O Paquistão vai pagar no fogo do juízo por permitir esseskafir (infieis) construírem suas igrejas blasfemas!", declarava alto para qualquer transeunte ouvir.
O pastor olhou para o portão da igreja onde um grupo de 12 policiais armados tinha sido posicionado nas últimas 24 horas. Em resposta a um alerta geral para a cidade, avisando que as igrejas seriam alvejadas, o governo tinha enviado forças extras de segurança para proteger a igreja desta última ameaça de bombardeio fatal ou de ataque armado.
Ele balançou a cabeça, lembrando-se de como seu coração desfalecera algumas semanas antes quando sua filha mais velha, de 12 anos, trouxe-lhe uma carta de ameaça que ela encontrara em seu caminho de casa, dentro do átrio do complexo da igreja. A nota não assinada era breve, mas letal em suas implicações:
"Os cristãos apoiam o Ocidente. Eles são aliados de uma cultura imoral e condenada. O islã não terá nada a ver com eles. Todos os cristãos devem se converter ao islã e entregarem suas igrejas para se tornarem mesquitas, ou deveriam deixar o Paquistão".
Apenas o pessoal autorizado podia passar pelos guardas no portão para entrar no complexo. O pastor argumentava consigo, incapaz de se livrar de seus temores ocultos por sua esposa e filhas. Esta nota não poderia ter sido apenas "jogada por baixo da porta", como havia sugerido a polícia ao ser informada por ele.
Ele se virou e caminhou de volta a seu estudo, tentando forçar seus pensamentos voltarem para seu sermão em Isaías 55, unido ao convite de Jesus nos Evangelhos: "Vinde a Mim todos os que estão cansados e oprimidos e Eu vos darei descanso".
De volta a sua mesa, ele lutou para praticar o que planejava pregar. "Como posso dizer a meu povo que há descanso em Jesus quando eu mesmo estou lutando para descansar nEle?", disse alto essas palavras, forçando-se a admitir sua ansiedade e seus temores.
"Existe alguém em nossa equipe que esteja envolvido de alguma forma com os extremistas?", perguntou a si mesmo. "Alguém que pudesse atravessar a barreira policial para colocar essa carta à minha porta, logo antes de minha filha passar? Se chegaram até a minha porta da frente, significa que poderiam ir mais longe, a qualquer momento!".
As possibilidades são abundantes. Haveria um policial corrupto na segurança entre os guardas dos portões da igreja? Ou elementos infiltrados na congregação? Ele havia sentido frequentemente, entre os vários membros da congregação, a presença perturbadora da vigilância. Talvez de fontes de inteligência designadas para "protegê-los", mas possivelmente de grupos hostis.
Ele não conseguia se livrar de seu desconforto quando lembranças de interrogatórios periódicos que suportara da polícia secreta o inundavam. Eles tentavam se intrometer em todas as áreas da vida da igreja e de suas atividades. Suas perguntas vinham de todas as direções para confundi-lo e fazê-lo tropeçar.
E ele viveu sempre com temor de que ele ou um dos membros da igreja pudessem ser alvejados ou acusados de blasfêmias inventadas. Com certeza, qualquer cristão acusado de blasfêmia contra o islã, o alcorão ou o profeta Maomé ficava indefensável contra a polícia e os tribunais; seria detido imediatamente, espancado e passaria anos na prisão.
Não ajudava o fato de que os cristãos eram abertamente deturpados na televisão e na imprensa como sendo intimamente ligados ao Ocidente. "Esta é uma imagem má e falsa que o islã está promovendo, fazendo todos crerem que nós somos estrangeiros imorais, desleais a este país. Somos paquistaneses, mas eles nos tratam como forasteiros!".
Ele não ousava contar aos cristãos que conhecia no Ocidente sobre toda a perseguição que sua igreja enfrentava. Ele bem sabia que, se os estrangeiros protestassem, pressionando seus governos a intervirem, seria ainda pior para os cristãos do país.
"Todos sabemos o quanto os cristãos são odiados neste país", suspirou consigo.
Quebrantado, ele finalmente caiu de joelhos, derramando seu estresse e seus temores: "Não posso fazer este trabalho, Senhor, a não ser que as pessoas orem por mim. Ensina-me, mostra-me como descansar em Ti para lançar todas estas tensões sobre Ti, para que possa também ajudar meu povo a fazê-lo".
"E, por favor, não deixe que nossos irmãos e irmãs cristãos ao redor do mundo esqueçam de nós. Relembre-os hoje de orar por nós para nos ajudar a travar nossas batalhas espirituais. Somente juntos podemos derrubar as fortalezas que o inimigo tenta erguer contra nós".
Quando se pôs de pé, foi lembrado de que, certa vez, o próprio Apóstolo Paulo tinha "se desesperançado da própria vida". E o que foi que lhe dera esperança para continuar e não desisitir?
Rapidamente, virou as páginas no primeiro capítulo de II Coríntios. "Sim, é isto, a resposta para mim e toda a congregação!". Ele repetiu devagar os versículos 10 e 11: "o qual nos livrou e em quem esperamos que ainda nos livrará de tão grande morte, ajudando-nos também vós com orações por nós, para que por muitas pessoas sejam dadas graças a nosso respeito, pelo dom que nos foi concedido por meio de muitos".
"É assim que meu sermão deverá terminar amanhã!", disse ele, com seu coração se animando finalmente. "Paulo também não conseguiu sozinho. Ele sabia que as ‘orações de muitos’ eram a chave. Esta é a resposta de Deus para nós, para nos manter confiando através do que quer que venha pela frente!".
FontePortas Abertas
TraduçãoGetúlio Cidade

Nenhum comentário:

Postar um comentário